terça-feira, 9 de abril de 2013

Nada pessoal


Pela primeira vez no blog, vou postar um texto alheio. Ele mudou minha percepção das coisas. O original está em http://vividlife.me/ultimate/30100/dont-take-anything-personally e esta abaixo é uma tradução totalmente livre feita por mim. É meio longo, então, sente-se confortavelmente ou fique à vontade para desistir. Espero que goste, caro desleitor!

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Imagine que você está em um shopping gigantesco com centenas de salas de cinema. Você olha em volta para ver o que está passando e nota que o título de um dos filmes é o seu nome. Incrível! Você entra na sala, que está vazia, exceto por uma pessoa. Bem discretamente, para não interrompê-la, você se senta atrás dela, que nem percebe a sua presença; toda a atenção dela está no filme.

Você olha para a tela e, que surpresa! Reconhece todos os personagens do filme - sua mãe, seu pai, seus irmãos e irmãs, seu amor, seus filhos, seus amigos. Então você vê o protagonista do filme e é você! Você é a estrela do espetáculo e essa é a sua história. E aquela pessoa na sua frente, bem, também é você, vendo você mesmo atuar no filme. É claro, o protagonista é apenas como você acredita que é, assim como acredita serem os coadjuvantes, porque, bom, você conhece sua própria história. Após um tempo, você fica um tanto impressionado com aquilo tudo e decide ir até outra sala.

Nessa sala também tem só uma pessoa assistindo e ela não percebe nem que você se sentou ao seu lado. Você começa a assistir também e reconhece todos os personagens, mas, dessa vez, você é apenas coadjuvante. Essa é a história de vida de sua mãe, e é ela quem está ali, completamente atenta ao filme. Aí você percebe que sua mãe não é a mesma pessoa que estava no seu filme. O jeito como ela se projeta é totalmente diferente no filme dela. Esse é o modo como sua mãe quer que todos a vejam. Você sabe que não é autêntico. Ela está atuando. Mas você começa a entender que é como ela se vê e fica um pouco chocado.

Então você percebe que o personagem que tem o seu rosto não é a mesma pessoa que estava no seu filme. Você diz a si mesmo: "Ah, esse não sou eu", mas agora você sabe como sua mãe te vê, no que ela acredita a seu respeito, e está longe da sua crença sobre você mesmo. Aparece o personagem do seu pai e o jeito como sua mãe o percebe, e não tem nada a ver com o jeito que você o vê. É completamente distorcido, assim como a percepção da sua mãe em relação aos outros personagens. Você vê o que sua mãe pensa a respeito de seu companheiro e fica até um pouco irritado: "Como ela ousa?!" Você se levanta e sai de lá.

Na sala ao lado está passando a história do seu amado. Agora você pode ver qual é a percepção dele a seu respeito e o personagem é absolutamente diverso daquele do seu filme ou do filme da sua mãe. Você percebe como ele vê seus filhos, sua família, seus amigos. Você vê como ele quer ser visto e não é a forma como você o vê, de jeito algum! Você sai do filme e vai assistir ao de seus filhos, como eles te veem, como veem o vovô, a vovó, e você mal pode acreditar. Aí você vê os de seus irmãos e irmãs, os filmes dos seus amigos, e você descobre que todo mundo distorce todos os personagens em seus filmes.

Depois de ver todos esses filmes, você decide retornar ao primeiro cinema para ver o seu próprio mais uma vez. Você se vê atuando no seu filme, mas já não acredita no que vê; você não acredita mais em sua própria história pois pode ver que é apenas uma história. Agora você sabe que toda a atuação em que se empenhou a vida inteira não serviu de nada, pois ninguém te percebe do jeito que você quer ser percebido. Você entende que todo o drama acontecendo no seu filme não é percebido por ninguém ao seu redor. Fica óbvio que a atenção de cada um está em seu próprio filme. Eles nem percebem que você está sentado bem ao lado deles no cinema! Os atores estão com toda sua atenção voltada para seu próprio roteiro e é a única realidade em que eles vivem. A atenção deles está tão viciada na sua própria criação que eles nem percebem sua própria presença, aquele que está observando o filme.

Nesse momento, tudo muda de figura para você. Nada mais é a mesma coisa, pois você vê o que está realmente acontecendo. As pessoas vivendo em seus próprios mundos, seus filmes, suas histórias. Eles apostam todas as suas fichas naquela história e ela é verdadeira para eles, mas é uma verdade relativa, porque não é a verdade para você. Agora você pode ver que todas as opiniões que eles têm sobre você são dirigidas àquele personagem de você que vive no filme deles, não no seu. Quem eles estão julgando por você é o personagem de você que eles criaram. O que quer que seja que pensem de você é, na verdade, sobre a imagem que têm de você, e essa imagem não é você.

A essa altura, está claro que as pessoas que você mais ama não lhe conhecem e você também não as conhece. A única coisa que você sabe sobre elas é aquilo em que acredita a respeito delas. Você conhece apenas a imagem que criou para cada uma delas, e a imagem nada tem a ver com aquela gente. Você pensava que conhecia seus pais, seu cônjuge, seus filhos e amigos muito bem. A verdade é que você não faz a menor ideia do que está acontecendo no mundo deles, o que pensam, o que sentem e com o que sonham. O que mais surpreende é que você pensava que conhecia a si mesmo. Então vem a conclusão de que você nem conhece você mesmo, pois está atuando há tanto tempo que dominou a arte de fingir ser o que não é.

Consciente disso, você percebe como é ridículo dizer: "Minha esposa não me entende. Ninguém me entende." É claro que não entendem. Nem você se entende. Sua personalidade muda de um minuto para outro, conforme o papel que está interpretando, de acordo com os coadjuvantes na sua história, a ver com os seus sonhos naquele momento. Em casa, você tem certa personalidade. No trabalho, tem um jeito totalmente distinto. Com suas amigas, é uma coisa; com seus amigos, outra. Mas ao longo de toda a sua vida você supôs que as outras pessoas te conheciam tão bem, e quando elas não agiram como você esperava, você levou para o lado pessoal, reagiu com raiva e usou as palavras para gerar um monte de confusão e drama à toa.

Assim fica fácil entender porque há tanto conflito entre seres humanos. O mundo está povoado com bilhões de sonhadores que não estão cientes que os outros estão vivendo em seus próprios mundos, sonhando seus próprios sonhos. Da perspectiva do protagonista, que é seu único ponto de vista, tudo tem a ver com eles. Quando um personagem secundário diz alguma coisa que não bate com a história deles, eles ficam nervosos e tentam defender seu ponto de vista. Eles querem que os outros integrantes da história sejam como eles querem que sejam, e se não são, ficam magoados. Eles levam tudo para o lado pessoal. Com essa consciência, você também compreende a solução. É algo muito simples e lógico: Não leve nada para o lado pessoal.

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Este é o trecho do livro "O Quinto Acordo: Guia Prático do Autodomínio" (tradução livre), de Don Miguel Ruiz. Ele é de uma família de curandeiros mexicanos e carrega centenas de anos do legado místico e conhecimento do povo Tolteca. Ele passou por uma experiência extracorpórea após um grave acidente de carro que mudou sua vida, e hoje dedica-se transmitir o conhecimento adquirido em inúmeras viagens a lugares sagrados em todo o mundo.

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